segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

[CAUSO] DOIS TIMES SEM JOGO

Certa vez, o União da Barra do Catimbó recebeu o seguinte ofício:

Ilmos. Srs,
Do União da Barra do Catimbó
Nós vem por essa mal traçada linha chamar vocês aí pra jogar no campo da gente uma partida de futebol domingo, que a gente só joga nesse dia, que nos outro a gente trabalha. Se vocês quiser vim, pode responder o ofício que vem, que é pra gente pendurar ele na tabuleta do boteco do Almeida pros sócios do time da gente poder ver que vocês aceitou e se na hora vocês ficar com medo e não vim, eles não ficam pegando no pé da gente e dizendo que essa diretoria não tem ninguém que sabe tratar jogo. Agora se vocês não tão a fim de encarar a gente, então é problema de vocês. O Flor do Ó não tem medo de ninguém.
(Assinado: Olavo Silva, Diretor Esportivo do Flor do Ó)

Assim que leu o ofício, o Seu Azulão, presidente do União da Barra do Catimbó, se picou de raiva. Convocou a diretoria do seu time, leu o ofício do adversário e, de imediato todos toparam o jogo com o Flor do Ó. E, como era solicitado pelo desafiante, mandaram a resposta num ofício caprichado.

Ilmos. Srs,
Diretores do Flor do Ó
Nós recebeu o ofício marcando jogo e responde por essa mal traçada linha que aceita. Nós não é de enjeitar parada. Se a gente tivesse medo de homem, não saia na rua vestindo calça, a gente vai pode anunciar. Mas tem o seguinte: Nós dá o juiz e vocês que é dono do campo dá a bola. Domingo tamos aí na Freguesia do Ó pro que der e vier. Responde logo se aceita dar a bola. Se tiver medo de nós, é só dizer que naão quer, que agente não vai.
(Assinado: Eldócio Pereira, o Azulão, Presidente do União da Barra do Catimbó)

De posse do ofício-resposta, o pessoal da diretoria do Flor do Ó se atucanou e, rápido e rasteiro, mandou um pivete levar outro ofício, com novas bases:

Ilmo. Srs,
Diretores do União da Barra do Catimbó
Nós recebeu seu ofício que veio cheio de mumunha. E passamo a responder nessa mal traçada linha. Vocês quer moleza, já vi tudo. Mas a gente não tá a fim de criar caso. Só queremos jogar. Vocês pode trazer juiz, que com nós ele não vai ter vida mansa. Se tiver afanando a gente, nosso capitão do time toma o apito dele e dá pra outro. Nós sabe que na Barra do Catimbó só tem juiz ladrão. Nós não é otário. Mas aceitamo essa base que botamo aqui. Agora no negócio da bola, vocês traz a bola, nós dá o campo e vocês a bola, cada um dá uma coisa. Se quiser assim tá combinado.
(Assinado: Olavo Silva, Diretor do Flor do Ó)

Mal o Azulão meteu as botucas no ofício do adversário, segurou o pivete mensageiro e fez com que ele esperasse às pamparras para levar outro ofício de volta.

Ilmos. Srs,
Diretores do Flor do Ó
Juiz ladrão tem é no bairro de vocês. Tudo abafador. Nós manja a negada daí. E não adianta vim com grupo pra cima da gente, que a gente não é trouxa e não vai entrar em truque de papagaio enfeitado da Freguesia do Ó. Juiz que a gente leva pra apitar o jogo apita até o fim e não adianta estrilo de capitão fajuto. Se nós leva o homem nós garante ele, nisso vocês pode botar fé. E no negócio da bola não tem arrego: vocês dá a bola. Agora, se vocês quer arranjar desculpa pra não jogar é problema de vocês. Nós foi convidado. Aceitamos porque nós não temo medo de ninguém. Na bola e no pau nós somo mais nós.
(Assinado: Eldócio Pereira, o Azulão, Presidente do União da Barra do Catimbó)

Ao tomar conhecimento do novo ofício do União, a curriola do Flor do Ó se entralhou e, sem demora, mandaram mais um ofício.

Ilmos. Srs,
Diretores do União da Barra do Catimbó
Nós vem por meio dessa mal traçada linha avisar que não aceita esculacho de ninguém. Ladrão é vocês desse pedaço fedorento. Nós aqui é trabalhador. E dentro do campo que fala mais alto, o único que chia, é o capitão do time e se ele resolver tirar o pilantra que vocês botaram pra apitar pode contar que ele tira, porque dá a maior moral pra ele. No negócio da bola, vocês tem que trazer a de vocês, que a bola da gente tá com bexiga e pode estourar.
(Assinado: Olavo Silva, Diretor do Ó)

A diretoria do União, presidida pelo Azulão, não era de engolir desaforo. Por isso, mal acabaram de ler o ofício, se bronquearam e azedaram mais na resposta.

Ilmos. Srs,
Diretores do Flor do Ó
A Barra do Catimbó não é bairro de ladrão, a mãe de vocês não mora aqui. Gaturama é a patota daí. E a gente não quer levar a bola nossa porque sabe que vocês vai querer roubar ela. A negada do Democrata contou pra gente que quando foi jogar aí a bola deles caiu na vala e vocês enrrustiram e eles voltaram sem bola. Nós não entra nessa. Deixa de ser fominha e bota a bola que vocês afanaram do Democrata em campo.
(assinado Eldócio Pereira, o Azulão, Presidente do União da Barra do Catimbó)

Esse ofício do azulão revoltou a turma do Flor do Ó e eles, enviaram um pra acabar com a graça.

Ilmo. Srs,
Diretores do União da Barra do Catimbó
Nós não afanou bola de ninguém. Nós não ia se sujar por tão pouco. O Democrata aqui apanhou na bola e no tapa e por isso tá fazendo fuchico. Agora, vocês fizeram mal de meter a mãe no meio disso. Quando derem as fuças aqui, vão ter que engulir isso. Porque jogo só vai ter se vocês trusser a bola. Ladrão pensa que os outro é ladrão, mas nós não é. Pode trazer a bola sossegado.
(assinado: Olavo Silva, Diretor do Flor do Ó)

Por fim o Azulão mandou um ofício definitivo:

Ilmo. Srs,
Diretores do Flor do Ó
Nós não vai porque não vai deixar os ladrão daí roubar a nossa bola. Mas quando vocês quiser dar a bola, a gente vai. Quanto esse negócio de engolir o ofício da mãe de vocês nós duvida e faz pouco. Tamos aqui pra qualquer coisa. Se vocês tem medo de vim aqui, pode esperar que a gente se encontra nas quebrada.
(Assinado Eldócio Pereira, o Azulão, Presidente do União da Barra do Catimbó)

Por essas e outras, o União da Barra do Catimbó e o Flor do Ó ficaram sem jogo.

Texto de Plínio Marcos (http://www.pliniomarcos.com)

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